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A Organização dos Espaços e Tempos de Ensino e de Aprendizagem

Artista: Isaac de Oliveira: Folclore Brasileiro

Ana Maria Louzada

Muitas são as formas de organização dos diferentes espaços e tempos de ensino e de aprendizagem. Na sala de aula, pode-se organizar diferentes ambientes de estudos, envolvendo atividades que promovam a apropriação de conhecimentos de matemática, história, geografia, ciências, arte, português, etc. Dessa forma os ambientes podem ser de Arte, Jogos, Brinquedos e Brincadeiras, Produção de Textos, Dramatização, Leitura, etc.

É importante que a criança possa buscar nos diferentes ambientes de estudos, subsídios para responder as suas questões de estudos, e para isso o tempo necessário para tais estudos. Assim, não dá para ter uma aula de 50 minutos de matemática e depois mais uma de 50 minutos de história, de forma que as crianças retomem os estudos de matemática apenas no outro dia. Reorganizar os tempos significa a articulação das diferentes áreas do conhecimento de forma que as crianças possam se apropriar dos seus conhecimentos de forma articulada e no tempo que for necessário para a apropriação dos conhecimentos. Isso não significa esticar demasiadamente o tempo, mas respeitar os tempos, ritmos, percursos e modos de aprendizagem das crianças.

Responder determinada questão de estudo poderá exigir diferentes leituras na biblioteca e/ou no espaço de leitura da sala de aula. Para tanto, nesses espaços devem ter livros, revistas, jornais e outros documentos que tratam do assunto. Pode ser também que um determinado grupo de crianças busque responder as suas questões de estudos, analisando obras de arte (leitura de texto não verbal), e, assim, todos estarão trabalhando diversificadamente sem perder a unidade dos estudos.
Isso exige organizar o espaço e o tempo para aquela situação. Diversificando os ambientes e a forma como as crianças podem responder as questões, podemos promover a apropriação dos conhecimentos de forma significativa.  

Todos os espaços precisam ser repensados: sala de estudos (sala de aula) com diferentes ambientes de estudos; biblioteca com diversas opções; laboratório de informática; laboratório de ciências sociais e naturais; pátio; refeitório; banheiro; quadra; auditório, etc.

Ao organizar os diferentes espaços e tempos de ensino e de aprendizagem, necessário se faz pensar na organização espacial, de forma que as crianças possam se locomover, e ainda de forma que o ambiente fique agradável com cores que estimulem a criatividade em determinados ambientes e com cores que acalmam em outros ambientes, além dos recursos didáticos e pedagógicos que provoquem a interação das crianças entre si e com os conhecimentos de forma significativa.

Com base em tais questões, algumas indagações se fazem importantes em relação à organização espacial:
·       Como os móveis da sala de estudos devem ser dispostos?
·       Quais as implicações das configurações espaciais no processo de ensino e de aprendizagem?
·       Qual a importância de organizar a sala de estudos de forma atraente às necessidades reais das crianças?
·       Por que as crianças devem ser inseridas em ambientes de estudos com significativa variedade de experiências visuais, táteis, auditivas, olfativas, dentre outras?
·       Que tipo de iluminação deve-se utilizar na organização dos diferentes ambientes de estudos?

E ainda, tendo em vista que a criança vive um tempo peculiar: o tempo da infância, isto é, o tempo do brincar, ela interage com outras crianças e com os objetos de conhecimento com o corpo inteiro, na qual denominamos de corpo e movimento. Sendo assim, necessário se faz, outras indagações, tais quais:
  • Quais as implicações de uma prática pedagógica que deixam as crianças a maior parte do tempo sentadas diante de suas mesas, com poucas oportunidades de movimento?
  • Quais as implicações de uma prática pedagógica que propicia diferentes materiais na sala de estudos, de forma que as crianças manipulem, construam, tateiem ou adquiram experiências práticas?
É importante dizer também, que o ambiente auditivo também promove aprendizagem, de forma que a linguagem musical deve fazer parte do cotidiano das práticas pedagógicas, tanto enquanto um gênero textual que propicia a apropriação de diferentes conhecimentos quanto pelas implicações da melodia que aguça as funções psicológicas – o intelecto, das crianças. 

Daí a importância de que exista música ao fundo, ruídos agradáveis e conversas produtivas. A forma como a/o professora/professor usa a voz, variando em intensidade e inflexão. Nesse sentido não cabe uma relação onde à voz da/do professora/professor evidencie uma qualidade monótona e autoritária. 

Outras indagações também se fazem necessárias:
·       As crianças têm aprendido fora do prédio da escola?
·       A sala de estudos ou laboratórios de ciências sociais e naturais contém “coisas” vivas, como plantas e animais?
·       As salas de estudos têm janelas que descortinam o céu, nuvens, árvores, gramados e outros fenômenos naturais?
·       Como o tempo é estruturado no decorrer das relações pedagógicas?
·       As crianças têm oportunidade de trabalhar em projetos sem interrupções ou precisam interromper continuamente?
·       O dia escolar (cotidiano das relações pedagógica) tem uma sequencia que permite usar otimamente os intervalos de atenção das crianças?
·        O planejamento das práticas pedagógicas tem acontecido de forma coletiva, com participação das crianças?

As respostas para as indagações acima revelarão a qualidade do ambiente de ensino e de aprendizagem disponível para as crianças.

*Artigo com base no Capítulo II do curso que ministro para professores do Ciclo de Alfabetização


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